quarta-feira, 25 de abril de 2007
sinfônica brasileira, cohen, minczuk - crítica de lauro machado coelho
Nas mãos de Roberto Minczuk, seu atual diretor artístico, a Orquestra Sinfônica Brasileira parece estar realmente superando a fase crítica com que se debatia tempos atrás. O que a OSB demonstrou, quarta-feira, no primeiro da série de quatro concertos que vai apresentar no Teatro Alfa, foi um equilíbrio muito maior entre os naipes, um desempenho muito consistente dos metais e madeiras, contrapostos às cordas, um nível homogêneo de execução que vai deixando rapidamente para trás as irregularidades de um passado recente.E o primeiro teste para isso foi a bem cuidada interpretação do Uirapuru, de Villa-Lobos, com o seu exuberante uso das sonoridades orquestrais para evocar os ruídos da floresta tropical. É uma peça ainda habitada por influências da escola francesa e, sobretudo, do Stravinski da Sagração (e Minczuk foi muito hábil em deixar tudo isso muito claro). Mas é, ao mesmo tempo, uma obra de tom inequivocamente pessoal na qual, como dizia Mário de Andrade, “a orquestra avança, se arrastando penosamente, quebrando galhos, derrubando árvores, tonalidades e tratados de composição”.Homenagem ao centenário de morte de Edvard Grieg, que se relembra em setembro deste ano, o seu Concerto em lá menor op. 16 recebeu, de Arnaldo Cohen, uma interpretação bastante correta. De um modo geral, foram muito mais persuasivos os momentos de inflexão lírica – a cadência do Allegro molto moderato; os delicados toques de colorido do Adagio, de tom noturno; o lírico episódio cantabile no meio do Allegro moderato e marcato –, mais bem resolvidos do que passagens de bravura como o ritmo marcado de halling, a dança popular norueguesa, do terceiro movimento. Mas foi, no conjunto, uma execução muito satisfatória complementada, no extra, por uma leitura encantadora de um dos meditativos Liebesträume de Liszt.A espetacular transcrição feita por Maurice Ravel, em 1922, dos Quadros de uma Exposição, de Módest Mússorgski, é um resplandecente mostruário das possibilidades da orquestra. Essa é uma peça com a qual Minczuk tem muita familiaridade, e da qual sabe extrair os melhores efeitos. Os diversos climas da Promenade, por exemplo: o brilho da enunciação inicial do tema pelo trompete; a nostalgia da trompa antes do Velho Castelo; a brilhante introdução das Tulherias, e assim por diante. Há episódios que ele sempre realiza com muita graça: a agitação popular do Mercado de Limoges, por exemplo; ou as frases esganiçadas do trompete, imitando a voz de taquara rachada de Schmuyle, o judeuzinho pobre, contraposta ao rico e arrogante Samuel Goldenberg (cordas e madeiras em uníssono).A OSB passou incólume pelos árduos testes de uma partitura que exige muito de todos seus naipes. E chegou com brilho à Grande Porta de Kíev, em que o tema do Passeio é retrabalhado de forma épica e religiosa, para evocar uma visão heróica do passado. Uma coda que arrancou do público reação entusiástica.
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